sábado, 2 de julho de 2011

Evolução Histórica da Educação Física Escolar no Brasil

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Educação Física atual – compreensão de suas origens históricas no Brasil.
            Educação Física x Educação Física Escolar

            E.F. Higienista (Até 1930)
            Assumida por médicos com a intenção de modificar hábitos de saúde e higiene da população. – físico saudável e equilibrado, menos suscetível as doenças.
A Educação Física tinha um papel fundamental na época: formar homens e mulheres sadios, fortes, dispostos á ação.
            Pensamento político e intelectual – Eugenia (melhoria genética da raça humana – esterilização de deficientes, exames pré-nupciais e proibição de casamentos consangüíneos).
            “Assepsia social”, a Educação Física deve ser capaz de disciplinar os hábitos das pessoas e afastar os maus hábitos que provocam a deterioração da saúde e da moral.
            A Educação física era tida como “agente de saneamento público, na busca de uma sociedade livre das doenças infecciosas e dos vícios deteriorados da saúde e do caráter do homem do povo”. (Ghiraldelli, 1991)
            Elite Imperial – estava de acordo com os pressupostos higiênicos/ eugênicos/ físicos. Contudo forte resistência ao trabalho físico – associado ao trabalho escravo (principalmente mulheres).
            Atividade Física – vista como algo menor dificultava que se tornasse obrigatória a prática nas escolas.
            Instituições militares – filosofia positivista – favoreciam que tais instituições pregassem a educação do físico – almejando ordem e progresso – fundamental formar indivíduos fortes e saudáveis.
            1851- Reforma Couto  Ferraz – E.F. nas escolas do município da Corte – pais contra, pois não se tratava de uma atividade intelectual – tolerância maior com os meninos – associação com instituições militares(alguns pais proibiam as suas filhas).
            Em 1882 através de uma reforma na educação proposta por Rui Barbosa a Educação Física passa a ser obrigatória em todas as escolas. Essa proposta também equiparava em categoria e autoridade o professor de ginástica aos de todas as outras disciplinas.
            A implantação ocorreu apenas nas escolas do Rio de Janeiro (capital da República) e nas escolas militares.
            “A Ginástica não é um agente materialista, mas pelo contrário, uma influência tão moralizadora quanto higiênica, tão intelectual quanto física, tão imprescindível à educação do sentimento e do espírito quanto a estabilidade da saúde e ao vigor dos órgãos”. (Rui Barbosa)
            Apenas em 1920 outros estados começam a realizar suas reformas educacionais e incluem a Educação Física, com o nome mais frequente de ginástica.
            E.F. baseada em modelos europeus - sueco/alemão/francês – se firmavam em princípios biológicos. A utilização desses métodos buscava a valorização da imagem da ginástica na escola.
E.F. Militarista (1930 - 1945)
“A Educação Física militarista não se restringe apenas numa prática militar de exercícios físicos, mas em uma concepção que visa impor a toda a sociedade padrões de comportamento estereotipados frutos da conduta disciplinar própria da caserna”. (Ghiraldelli, 1998).
            O exército era a principal instituição a comandar movimentos pró E.F. mesclando objetivos patrióticos de preparação pré-militar.
            A EF militarista assim como a higienista está  seriamente preocupada com a saúde da população. Era fundamental formar indivíduos fortes e saudáveis, que pudessem defender a pátria e seus ideais.
            A EF militarista tinha como objetivo formar cidadãos que estejam aptos para o combate. O cidadão-soldado deve obedecer cegamente as ordens dadas pelos seus superiores e deve servir de exemplo para o restante da juventude pela sua bravura e coragem.
            A formação dessas pessoas deve ser rígida para “elevar a nação” à condição de defensora da pátria.
            Na concepção da EF militarista, a educação física na escola deve auxiliar no processo de seleção dos mais aptos e capazes para que esses ocupem os postos de comando nas atividades sociais e profissionais.
            Década de 30 – Brasil – contexto histórico com ideologias nazistas e fascistas – modelo eugenista ganha novamente espaço. O exército era a principal instituição a comandar movimentos pró Educação Física mesclando objetivos patrióticos  e de preparação pré-militar.
            O papel da Educação Física é de “colaboração no processo de de seleção natural, eliminando os fracos e premiando os fortes, no sentido de depuração da raça.” (Ghiraldelli, 1991)
            Na Educação Física militarista, a ginástica, o desporto os jogos, etc. só tem utilidade se visam a eliminação dos “incapacitados físicos”. A coragem, a vitalidade, o heroísmo, a disciplina exacerbada compõem a plataforma deste modelo de Educação Física.
            A EF militarista assim como a higienista consideravam a educação física como atividade eminentemente prática, não necessitando de uma fundamentação teórica que desse suporte.
            Não havia diferença entre instrução física militar e educação física. Por isso não era preciso dominar conhecimentos e sim ser um ex-praticante.
            Em 1931 o “método francês” que era o método usado pelo exército francês foi implantado em toda a rede escolar.
            Em 1933 foi fundada a Escola de Educação Física do Exército, um dos pólos mais representativos da educação física brasileira nos anos 30 e 40. Dessa escola vinham os instrutores que trabalhavam com a educação física escolar nessa época.
            Década de 30 – processo de industrialização e urbanização – neste contexto a E.F. tinha novas atribuições, além  de caráter militarista: fortalecer o trabalhador e desenvolver o espírito de cooperação em benefício da coletividade.
            Constituição de 1937 –  incluía a E.F. como prática educativa obrigatória( e não disciplina curricular) nas escolas brasileiras.  Artigo que citava o adestramento físico para preparar a juventude visando a defesa da nação.
            “As etapas a vencer a serviço da pátria, exigem cada vez mais um corpo são, pois com o enobrecimento físico surgirá uma alma sadia, pensamentos sãos e desdobramento do esforço coletivo. Surgirá uma consciência nacional, uma nova mentalidade e possibilidades de cada um se transformar numa máquina de colaboração e rendimento”. (Vasconcelos, 1938).  Trecho do livro: Educação Física Progressista (Ghiraldelli, 1991)

            E.F. Pedagogicista (1945 - 1964)
            Influenciado pelo movimento americano conhecido por Escola Nova, defendida por educadores como Dewey. O movimento de Escola Nova evidenciou a E.F. no desenvolvimento integral do ser humano.
            Esse movimento fazia oposição a escola tradicional.



Didática Tradicional
Didática Moderna
Aluno: elemento passivo; aprendizagem automática; baseada na memorização, sem reflexão.
Educando: elemento ativo; reflexivo; crítico; centro de todo processo educativo.
Mestre: elemento preponderante do processo; autoridade máxima; dono do saber; ensino imposto em função do conteúdo programático.
Educador: apenas orientador e incentivador da aprendizagem.
Objetivos: apenas teóricos desprovidos de qualquer relação com a prática escolar.
Objetivos: fornecem sentido, valor e direção ao trabalho escolar.
Conteúdos: valores absolutos, ensinados e aprendidos sem alteração ou revisão crítica.
Conteúdos: Organizados em função das reais necessidades dos alunos e objetivos propostos.
Métodos: modo pelo qual o professor expõe os conteúdos, sem qualquer tipo de relação com o aluno.
Métodos: ativos e adaptados às necessidades e possibilidades dos alunos.


      Trata a educação física como uma atividade prioritariamente educativa, ou seja, como uma disciplina comum aos currículos escolares.
      Rompe com a idéia de que a função da educação física na escola é apenas de promover a saúde e aptidão física.
      A Educação Física Pedagogicista está intimamente ligada ao crescimento da rede pública nos anos 50 e 60.
      A Educação Física sistematizada e presente em todas as escolas públicas passou a atingir uma parte da população que antes não era atendida: as classes populares.
      A Educação física aos poucos vai sofrendo transformações e alterando a sua prática.
      O professor de Educação Física torna-se responsável por todos os eventos da escola; jogos escolares, fanfarras, desfiles cívicos e propaganda da escola na comunidade.
     
      E.F. Competitivista (Pós-1964)
      Militares assumem o poder. Educação em geral – influência tecnicista – formar mão-de-obra qualificada (cursos técnicos profissionalizantes). Atividade física – melhor desempenho para o trabalho.
      Década de 70 – E.F. mais uma vez função importante para ordem e progresso. Governo militar - investir na E.F. em função de diretrizes pautadas no nacionalismo, integridade e segurança nacional.
      Lei 5692/71 – E.F. teve caráter instrumental reforçada – era considerada uma atividade física voltada para o desempenho físico e técnico do aluno.
      Ensino de 1o grau – a partir da 5a série, a iniciação esportiva era um dos eixos fundamentais – busca-se descobertas de novos talentos. – participação em competições internacionais representando a pátria.
      O desporto de “alto nível” é o paradigma para toda a Educação Física.
      A Educação Física serviria de suporte ideológico, na medida em que ela participaria na promoção do país através do êxito em competições de alto nível.
      Os jogos recreativos e a ginástica ficam submetidos ao desporto de competição.
      Nesta fase da história da EF, que o rendimento, a seleção dos mais habilidosos, o fim justificando os meios estão mais presentes no contexto escolar.
      Esporte – Espetáculo; alienação e desmobilização popular. Estreitam-se os vínculos entre esporte e nacionalismo. Ex: seleção de 70.
      Proposta tecnicista, dando ênfase na aprendizagem do gesto esportivo estereotipado.
     
      Educação Física atual
      Década de 80 – modelo da E.F. da década de 70 passou a ser sentido e contestado – Brasil não se tornou uma nação olímpica e competição esportiva de elite não aumentou o número de praticantes de atividades físicas.
      Profunda crise de identidade nos pressupostos e discursos da E.F. – mudanças nas políticas educacionais – E.F. Escolar inicialmente voltada para 5a e 8a série do primeiro grau, passou a priorizar 1a a 4a série e pré-escola. – o enfoque passou a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno ao invés do desporto de alto rendimento.
      Surgimento de debates apontando novas tendências, fomentados por:
-         primeiros curso de pós-graduação em E.F..
-         retorno de professores doutorados fora do Brasil.
-          publicação maior de livros e revistas.
-         aumento do número de congressos e eventos.
-         Relação entre E.F. e Sociedade passou a ser discutida sob a influência das teorias críticas da educação. Questionou-se seu papel e sua dimensão política – mudança de enfoque quanto:
      - Natureza da área: ampliação da E.F. como área biológica e ênfase nas dimensões psicológicas, sociais, cognitivas e afetivas (aluno como ser humano integral).
      Objetivos, conteúdos e pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem: objetivos educacionais mais amplos(não apenas voltados para formação do físico), conteúdos diversificados(não só exercícios e esportes) e pressupostos pedagógicos mais humanos( não apenas adestramento).

      Qual a identidade atual?
      Atualmente - algumas abordagens para a Educação Física Escolar no Brasil – diferentes teorias psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas – todas tem ampliado os campos de ação e reflexão para área e aproximando das ciências humanas. Enfoques científicos diferenciados apontam a Educação Física buscando algo que articule as múltiplas dimensões do ser humano.
     
      Problemas
      Embora reconhecida como área essencial, ainda ocorrem problemas no âmbito escolar como: empurrada para fora da grade,, últimos tempos, fora da reunião de planejamento, discussão e avaliação do trabalho, distância da equipe pedagógica(próprio professor, etc.). Paradoxalmente, o professor é uma referência importante para os alunos – possui um conhecimento profundo sobre eles (a E.F. mobiliza aspectos afetivos, sociais, éticos, etc.). Importantes para outras disciplinas – importância da integração.
     
      Legislação atual: Lei 9394/96 – “... é componente curricular da educação básica...”:
            - Educação Infantil;
            - Ensino Fundamental;
            - Ensino Médio.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo. É muito importante que a sociedade tenha conhecimento sobre estes tempos históricos, pois,somente assim poderemos retirar da disciplina e dos profissionais principalmente os que atuam no âmbito escolar os estigmas deixados pelo tempo.
Continue escrevendo.
Abraços.
Jean Maurício.
Professor de Educação Física
Sete Lagoas - MG.

Aderson disse...

Muito legal ver pessoas assim como você a postar a história da disciplina fundamental para os seres. Que as escolas e instituições possam valorizar cada vez mais a nossa profissão. Você é linda !
Abraços .
Goleador Nato Ad.Almeida
Professor e Personal.
Lagoa Santa - MG.

Anônimo disse...

Parabéns, esse artigo mim ajudou muito :)

Anônimo disse...

MUITO ÚTIL ESSE ARTIGO!

Anônimo disse...

Vlw,me ajudou no trabalho de escola =D