(entrevista com a mestre em Educação Física Astrid Baecker)
O surgimento da Educação Física através da Ginástica ocorreu mediante um foco diferenciado do atual, isto é, militarizado, com suas atividades sistematizadas; porém, houve um progresso em relação à concepção de sua importância, que é a promoção da educação através dos movimentos corporais, seja cultural, moral, social, ética ou fisicamente, dando prioridade à inclusão, tornando-a mais significativa nos tempos modernos. A Educação Física não é apenas o treinamento corporal com objetivo esportivo, de rendimento.
Também há o questionamento em relação aos movimentos sociais através da dança, quando certos preconceitos culturais são apenas reproduzidos, em vez de serem refletidos. A forma que se trabalha essa questão nas escolas nem sempre é aproveitada de forma correta.
A socialização da criança ocorre principalmente nessa disciplina, visto que esta estabelece relações com diversas culturas; nessa área de intervenção social há a possibilidade de mostrar aos alunos a influência da mídia, que impõe padrões de estética, comercializa o esporte e supervaloriza o alto rendimento etc.; e oportunizá-los de conhecer diferentes significados dentro da música, da dança, da arte, do esporte, dando-lhes senso crítico. Além disso, permitir a reflexão sobre cada um deles, sob diferentes olhares (principalmente quando se trata de si mesmo, criar sua própria opinião em relação ao seu corpo, sua aparência, saber questionar se determinados padrões devem ser seguidos ou se devem ser refletidos. Ou o questionamento sobre atitudes que muitas vezes agridem o corpo humano e/ou são invasivas, simplesmente com o objetivo de se adaptar às regras de um esporte, conseguir uma medalha ou um status na mídia de corpo exemplar).
Com relação à dança, também é importante que dentro do projeto político-pedagógico trabalhe-se contra o preconceito de gênero, por exemplo, muito comum nessas aulas. A Educação Física deve ensinar as danças populares com o intuito não só de propiciar vivências motoras, mas as suas histórias, incentivando seus alunos a adquirirem um olhar crítico da realidade. O aluno crítico emancipa-se, tem possibilidades de escolhas conscientes, porém essa característica deve advir do próprio professor, visto que só se ensina aquilo que se pode dar como exemplo.
Então, esse componente curricular não é apenas um conteúdo; ele tem objetivos, e um dos seus principais objetivos é a emancipação do aluno.
Como componente curricular, a Ginástica (francesa) surgiu com obrigatoriedade na época da ditadura militar, onde sua aplicação visava obter corpos treinados e fortes, com sentimentos de defesa da Nação e de patriotismo, juntamente com a Educação Moral e Cívica. Era imposto o disciplinamento corporal, cujas peculiaridades ainda hoje podemos observar no treinamento físico militar, seja das forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) ou das forças auxiliares (Polícia Militar e Corpo de Bombeiros) do Brasil.
Atualmente, com o aumento da produção do conhecimento, existem estudos que se contrapõem ao modelo de ensino tradicional, trazendo inovação positiva ao valorizar a não exclusão nas aulas de Educação Física. Ao invés de trabalhar a especialização esportiva, o que seria dar uma maior atenção àqueles alunos que já predispõem de habilidades mais desenvolvidas, o novo modelo pedagógico que tem sido implantado é um modelo que está voltado para a humanização dos gestos e a formação do cidadão, em seus variados aspectos.
É necessário que esse componente curricular seja visto não apenas como uma prática corporal que reproduz o modelo sistemático do esporte, onde a competitividade e o individualismo predominam, mas que seja valorizada a existência de variadas vertentes que apontam para um conjunto de conhecimentos, das manifestações humanas e seus significados. Para que isso ocorra, a interdisciplinaridade não pode passar despercebida pelos alunos. A existente proposta de dimensão dos conteúdos mostra que o objetivo principal das aulas de Educação Física só será alcançado se o professor valorizar as dimensões conceitual (“por que fazer”) e atitudinal (“como se relacionar dentro desse fazer”) dos seus conteúdos, ao invés de valorizar, de forma predominante, a dimensão procedimental (“saber fazer”, que geralmente é praticada sem uma reflexão sobre os significados dos gestos, “desumanizando” os mesmos).
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